terça-feira, 28 de dezembro de 2010

As Últimas Coisas

Era uma noite quente como aquelas em que passamos horas a fio buscando inspiração nas mínimas coisas, mas ela não vinha justamente pela euforia que essas noites trazem... Que é quando fica mais difícil organizar as idéias na cabeça, se é que me entendem.
Mas era uma noite propícia para bons diálogos, para se contar estrelas, para se ouvir o som do mundo ou simplesmente para fazer promessas ou pactos.
Poderia soar meio estranho, mas as coisas que começariam a se firmar a partir dali estariam escritas a fogo, como em superfície rochosa. Poderia ser um momento muito delicado e tênue para firmar pactos tão sérios e silenciosos. Mas eles estavam completamente cientes daquilo que planejavam fazer. Era uma forma de fechar as portas afim de que não olhassem para trás, afim de que não vissem o que se escondia abaixo da soleira, como se esperasse para assombrá-los.
Até ali não tinham falado tão seriamente sobre os últimos fatos, sobre as últimas coisas acontecidas, mas pairava no ar ainda alguma frustração indignada, um certo serrar de dentes maldoso, algum lamento choroso que se perdia na noite entre orações que pareciam vãs.
Sentia-se agora uma atmosfera aconchegante, de uma amizade crescente, de um companheirismo em comum, de uma luta parecida, de um pesar que saltava os olhos por razões óbvias mas incompreendidas por outros. Não, Os Outros não entenderiam, eles jamais veriam como eles viam. Jamais sentiriam como sentiam. Era tudo uma questão de vivência, tudo uma questão de coisas passadas mas que ainda permaneciam vivas diante de suas retinas.

Ah, as retinas. Essas sim falavam e poderiam contradizer todo o motivo daquilo, tudo o que fora vivido até ali.

E na medida em que a madrugada foi adentrando o recinto com cheiro de livros e incenso, o laço apertava-se em volta da decisão. E enfim foi levado adiante. Eles escolheram se calar e para isso nem precisaram juntar as mãos, cortar as palmas e selar com sangue precioso. Não, as palavras acorrentam de um modo muito mais pesado e machucam muito mais do qualquer adaga. Por isso o silêncio.
Por isso o amor disfarçado de indiferença.
Por isso a invisibilidade opcional.

E enfim, apenas fitaram-se no fundo nos olhos. De um lado duas noites de Lua Nova, e do outro, dois Lagos tão Azuis e Profundos que poderiam guardar qualquer coisa, confinando-a numa espécie de espera infinda, afastada de tudo. Sim, ali, banhada pela luz da Lua Nova e pela água tão azul, a coisa poderia morrer em paz, sem ter que machucar ninguém ao tentar fugir e ganhar forma.
Teria as asas podadas e os olhos vendados. Inerte, não teria capacidade de se mover e definharia. Afinal, dores dessa natureza costumam ser egoístas e precisam de medidas drásticas. Não são donas de ninguém, mas agem como se fossem.
Mas eles continuavam perto, esperando e prontos para irem para longe se preciso fosse. Poucos os acompanhariam, eles sabiam, mas precisavam conhecer muitas coisas e somente os amigos lhe serviriam caso tivessem de ir mesmo. 

Poderia nunca chegar essa hora, mas o que eles sabiam é que lá, dentro de cada uma de suas retinas que agora começavam a cintilar com um brilho novo, eles estavam longe para que não ouvissem os ecos de tudo o que se passou nos últimos tempos.

Ao som de "Sacra", Apocalyptica.

5 pessoas se inspiraram:

Maria Clara N. Fernandes Dualdo disse...

sayms fiko perfeitoo vc se superou como sempree!!!! BJOOOO commenta o meu laa!!

Unknown disse...

Uaau,desde cedo eu sabia que aquela noite iria render bons textos no seu blog. É incrivel como uma noite ao lado de uma ÓTIMA companhia pode transformar pensamentos e até msm atos ma vida de alguém, ao lembrar me vem uma paz interior que acho que acaba sendo exterior tbm, creio então, que encontrei os ouvidos certos para minhas falas, e as falas certas para meus ouvidos, eu te agradeço por participar da minha vida e a trasformando em uma vida muuuuito melhor, obrigado Saymon, simplismente por existir e fazer o bem que voc faz a cada um que o conhece!

Júlia disse...

vc sempre me deixa confusa

Bárbara Elisa disse...

Aaain sayms, que orgulho que eu tenho de vc. Na verdade, de vc e o do vanzs né :D
e como eu acabei de te dizer: 'Poucos os acompanhariam, eles sabiam.' é nóis hihi

João Manoel - disse...

Nossa saymon, o post ficou muito massa bixo. ashauhhsuah Ein, tu disse que eu entenderia as metáfora perfeitamente e como você é o rei delas, conseguiu colocar tudo tão implícito e ao mesmo tempo tão explícito que só me restou uma palavra a te dizer nesse momento: Parabéns!