sábado, 29 de setembro de 2012

Para Aqueles que Não Querem Ser Esquecidos

Só peço que me ame menos, mas que seja por muito tempo.

Consideraria esse um post bobo se não houvesse sentimentos. O fato é que eu precisava externar isso de algum jeito, mas a minha inabilidade com papeis que surgiu recentemente não me deixou pegar meu diário e escrever como o escritor responsável que eu já fui.
Mas, enfim, o que me ocorre agora é o quanto eu fico vulnerável com a possibilidade de ser esquecido. Uma espécie de medo, frustração e receio metodicamente compactados me vêm aos sentidos e meio que fico fora de órbita. Quase egoísta isso, não é verdade?
Eu também consideraria assim se não tivesse ciência da reciprocidade e da ligação que se desenvolveu entre nós e que agora parece ser apenas um sopro, coisa irrisória, passiva de ser apagada por conta de novos rostos pelo caminho.
Eu não vou citar nomes aqui, simplesmente porque isso me faria ficar clumsy demais. Como vêem, nem estou floreando muito, mas é que além de estranho, isso me faz sentir cansado.
Perguntarão por que é que eu não corro atrás, e eu parafrasearei Manuela, amiga das tantas, dizendo: "Eu luto, mas luto pouco porque não tenho armas."
Só o que quero é que não nos percamos, que as coisas que o nosso setembro de um ano atrás trouxe, não evanesçam. Eu nem sei se você vai ler isso aqui e nem criarei planos para que "milagrosamente" essa página apareça na sua dash, na sua timeline ou no seu feed de notícias.
O que penso é que sempre achei que as pessoas deixassem uma marca indelével nas nossas almas. Algo que nunca pode ser apagado, como disse Phillip Broyles.
Não gosto de textos assim, cheios de lacunas e frases tortas, ressequidas e despropositais. Mas é que regularidade de fatos hoje, para mim, representa uma infindável sucessão de pequenices decepcionantes.

Ao som dessa mix que há semanas estava esboçada esperando por uma cadência de músicas que eu não sei se funcionou direito:  Letting you go

domingo, 23 de setembro de 2012

Memórias de Hogwarts


Depois de levar mais de um ano para não se perder no caminho para a torre de astronomia, o garoto Setterwind enfim acertara o lugar sem percalço algum. Especialmente naquela manhã ele acordara bastante cedo; vestiu-se silenciosamente e a passos leves, deslizou para o corredor como se fosse apenas mais um fantasma pelos corredores do castelo. Seguiu pensando em como seria aquele novo ano letivo, pensou no que os seus então doze anos de vida significavam agora que enfim estava no lugar certo.
Não gostava muito de se entregar a certos devaneios, pois, de alguma forma entendia aquilo como uma preocupação adulta demais para ele. Mas é que enfim aceitara a maturidade que sem precedente algum deu lugar a um jovem de poses diferentes, estranhas até. Gostava de sentir a magia do castelo enquanto ia aos destinos de todos os dias. Ia meneando a mão pelas paredes rugosas e pensava na magia de tantos séculos que se encerrava ali, entre cada rachadura e seixos compactados. Estranhou não encontrar Filch, nem Madame Nora ou mesmo algum inspetor àquela hora e então julgou que deveria ter quebrado o recorde de todos os alunos na escola estando de pé antes de todos.
O sol ainda não se levantara sobre os campos de urze no horizonte, pairava no ar leve neblina que se adensava abaixo da torre, tornando-a um anexo, um lugar a parte de Hogwarts. Ao se aproximar do corredor em que as janelas se emparelhavam, ouviu certo murmurar, percebeu uma inquietação que parecia vir de um grupo de pessoas que estava além daquela parede. Avançou lentamente e quando colocou a cabeça para olhar sorrateiramente, sobressaltou-se.
Minerva McGonagall olhava com ar sereno pela janela, como se esperasse algo acontecer. Mais próximo dele, Dumbledore ria pensando em coisas distantes e de repente olhou-o como sempre fazia, por baixo de seus oclinhos de meia-lua.
- Junte-se a nós, caro Saymon Setterwind! – convidou ele.
No espaço entre os dois professores, um grupo de alunos também olhava atentamente para o horizonte, com a mesma expressão de espera. Sobressaltaram-se com o convite do professor, e então se viraram para ver quem chegava para também celebrar a chegada do sol.
Saymon Setterwind olhou todos com ar débil, mas feliz por vê-los ali. Janaína Angelis, com os longos e negros cabelos soltos e Fernanda Adler, na sua sempre oportuna morenice de olhos castanho escuros, acenaram com um sorriso para que ele se juntasse ao lado delas. Dando mais uma olhada, ele pôde identificar todos os que ali estavam. Viu Jaala Garrett sorrir inocentemente por entre os cachos que emolduravam seu rosto e brilhavam sob a luz pálida da manhã; viu Denise Woods, que ao lado da amiga tentava se concentrar em não olhá-lo com expressão um tanto mística. Vyktor Sanders, o esquisito garoto grifinório, também estava lá, alternando sua atenção entre cutucões em Patrícia Winfield, a garota absurdamente engraçada que puxava o cabelo do sempre sorridente Alexandre Wisely. Tamires Van Feu também estava lá, sempre serena e de mãos enluvadas, na tentativa vã de encarcerar o Toque de Cassandra abaixo do couro curtido. Para sempre aqueles olhos acompanhariam Saymon, pois afinal de contas ela sempre soube de tudo. Até os odiosos Jheferson Conl e Nivaldo Wislow estavam lá, mas naquele momento nada parecia importar para eles, nem mesmo a sede de poder. A maldade que ele sabia que habitava naqueles então jovens corações, não era párea nem para aquele momento. Paula Madden vagueava entre olhar para os jardins lá em baixo e insistentemente tentar tirar lascas da madeira do batente a sua frente, enquanto sorria de forma terna para Saymon e acenava a varinha para os fragmentos que rodopiavam e levitavam alguns centímetros acima de sua mão. Letícia Mitchell esfregava as mãos e colocava-as levemente sobre as bochechas, como sempre fazia nos momentos após acordar.
- É agora, professor. – lembrou McGonagall.
Naquele momento o ar assumiu um alaranjado intenso, inundando a cúpula da torre como se esta estivesse em brasa. Lentamente as cores se tornavam mais amareladas e a luz solar preenchia o castelo mansa e silenciosamente, deitando-se sobre tudo, desde os limites da floresta proibida até as estufas, passando por cada fresta, corredor e passagem, secreta ou não. Todos foram inundados de profunda ternura e seus olhos se encheram de lágrimas.
Nunca existirá sentimento semelhante ao de se sentir em casa. Era isso o que Hogwarts era para cada um ali: o seu lar, o porto seguro de todos. Saymon segurou com força a mão de Janaína que direcionou a ele um olhar que traduziu uma amizade profunda. O garoto de cílios espessos apertou os olhos e abriu-os lentamente para então perceber que estava agora no salão principal, mergulhado em mortal escuridão, nove anos depois daquela memória.

Uma antiga espada cintilou no canto de sua visão e ele avançou para apanhá-la. Jheferson também fez o mesmo e agora ambos empunhavam suas armas, já que na luta foram desprovidos de suas varinhas. Denise assistia a tudo da escadaria, como se estivesse fincada na pedra. Pelas janelas Saymon podia ouvir o lamento de Jaiza Wolf, que chorava abraçada ao corpo de Harry Potter.
Tom Riddle estava a alguns metros, inerte. Eles se viraram para ver quem se aproximava correndo em meio ao salão e puderam perceber a silhueta de Maiza Wolf desenhar-se sob a luz dos feitiços que ricocheteavam pelos corredores e estilhaçavam as paredes. Passou furtivamente por ambos, queria parar, deferir um “Sectumsempra” contra o pérfido Conl e dizer a Setterwind e a Woods para que ambos corressem para longe, pois aquela era uma guerra perdida. Mas na verdade ela precisava correr rapidamente para amparar sua irmã. Olhou Saymon nos olhos e ele percebeu que aquilo era um adeus.
Ambos apertaram com força a base das espadas que empunhavam e avançaram com fúria e ódio.
Setterwind então finalmente entendeu que nenhum dos dois sairia vivo dali.

Fragmento de algum ponto em meio a batalha – por Saymon Freire e Fernanda Lemos


Ao som de "A Window To The Past", John Williams.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Fantasma



Pairava a dúvida sobre a cabeça dos que ali habitavam. No momento em que o sol se punha, a mesma ladainha se desenrolava. Esperando o momento em que as últimas luzes do dia arroxeavam-se no horizonte, ele sempre acendia uma vela. Sabia que se ela ardesse azul, isso seria algo inteiramente diferente, não é sorte alguma, pois significa que há um espírito na casa. E se a chama bruxulear, depois se tornar mais forte a cada vez que a vela é acesa, o espírito está instalando-se. Sua essência está enroscando-se nos móveis e nas tábuas do assoalho, está reivindicando armários e guarda-roupas e, em breve, estará chacoalhando janelas e portas.
Às vezes leva bastante tempo para que alguém na casa perceba o que aconteceu. As pessoas querem ignorar o que não conseguem compreender. Procuram a lógica a qualquer preço. Uma mulher pode facilmente pensar que é tola o bastante para não se lembrar de onde guardou os brincos a cada noite. Ela pode convencer-se de que uma colher de pau extraviada é a razão por que a máquina de lavar louça está constantemente entupindo, e que o banheiro não pára de alagar devido a canos defeituosos. Quando as pessoas se provocam, quando batem portas umas na cara das outras e se xingam, quando não conseguem dormir à noite devido à culpa e aos maus sonhos, e o próprio ato de se apaixonar deixa-as nauseadas em vez de atordoadas e alegres, então é melhor considerar toda causa possível para tanta má sorte.
Já naquelas noites ele estava evitando dormir. Seus sonhos tornaram-se demasiados realistas e como se não bastasse se tornavam realidade no decorrer do dia. Pequenas premonições, manifestações clarividentes, avisos. Diminuíam o impacto causado pelas doses miúdas de decepção, mas é claro, não evitava que as mesmas tivessem efeito. A mescla do cansaço, do desencontro, da espera e do receio estava sendo servida todos os dias no desjejum; no almoço; para o lanche das horas vagas e requentada no jantar.  Alguns amigos especiais dividiam as iguarias com ele, por vezes até anjos se sentavam a mesa, cantavam na cozinha depois de vigiar todos os cômodos da casa a pedido dele.
Decidiu ele que se encontraria com o fantasma, que perguntaria de onde ele veio e porque cargas d’água se instalara ali, com todas as manifestações, ectoplasmas, arrepios e calafrios. Reparou que o crepúsculo avançava; que as sombras se deitavam e que no arquejar do dia, uma fresta fugidia do sol poente se sentava em sua cama, acentuando o aroma de lavanda que enchia o cômodo e continuava a pairar ali por toda a noite. Foi para o quarto e se sentou, encostou-se a cabeceira e esperou que na dita hora o espectro adentrasse o local e começasse mais uma vez as suas danações.
Obsevou a réstia de luz tremeluzente, meio azulada e trêmula sobre os seus lençóis, deitando um iluminar matreiro e abastado de preocupações. Bem aos pouquinhos foi sentindo seus pêlos arrepiarem-se, foi sentindo certo frio se espalhar na espinha, certo ardor de adrenalina nas maçãs de seu rosto. Ele estava chegando, percebeu. Concentrou-se no resto de dia que se derramara em sua cama e então sentiu o menear do colchão, viu a espuma aprumar-se embaixo de um peso supostamente inexistente. Sem saliva, lambeu os lábios em vão. Viu, a sua frente, formas tênues desenharem cores e formatos no ar.
Como se um espelho tivesse sido posto aos pés da cama de modo a refletir-lhe, pôde ver a si mesmo sentado a beirada da cama, encarapitado, olhando fundo e forte em seus próprios olhos. Nem as andorinhas com seu alvoroço de fim de dia cantaram lá fora. Tudo o que ele ouviu foi o ranger do estrado da cama com o novo peso que se sentara sobre ele. O ser aproximou-se, esvoaçante, etéreo. Olhou o seu igual com espanto de uma distância que permitiu fazer com que o ar que os separava zumbisse de embaraço e admiração e então sentenciou, com pesar e compaixão na voz:
- Meu Deus... Como pode existir coisa mais real do que um fantasma?

Ao som de "Flor da Noite", Nana Caymmi.