terça-feira, 22 de maio de 2012

O Grande Tear

Silêncio.  Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio.
Silêncio.  Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio.
Silêncio.  Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio.
Silêncio.  Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Silêncio. Sim-lêncio.

Silêncio... Era só isso o que eu ouvia. Meu silêncio era tão forte, tão grande, que criara vida. Ele estava ali de uma forma tão palpável a ponto de cobrir tudo. Céu, cidade e horizonte. Estava grudado em cada móvel, em cada átomo. E eu o perguntei: “Silêncio, eu estou de volta? Estou vivo?” e ele respondeu: “Sim...”, mas completou com dúbia voz: “... lêncio”.

      Até então eu não havia tomado conhecimento de tudo o que eu tinha passado até ali. Meus movimentos voltavam bem de mansinho aos seus devidos lugares, meus pensamentos mais pareciam um novelo embaraçado e eu só falava para dentro. Ali, naquela maca, coberto com lençóis ásperos com cheiro de sabão de coco. Apesar de tudo, meu cérebro voltava a sua frenética atividade e eu recomeçava a tecer meu relicário. E então eu pude enxergar muitas pessoas importantes, muitos rostos pairando e fiquei absurdamente feliz naquele momento por todos estarem ali comigo. Todos. Os de longe, os de perto, os deste mundo e de outros. Todos seguravam sorrisos flamejantes e grudavam em minha face a medida que se iam. Ali me senti fortalecido, encantado até, e muito, muito lisonjeado.
          Sim, eu NÃO estava sozinho.
         Foi então que lembrei que minhas pálpebras ainda podiam se abrir, que não eram meros enfeites. Só estavam um pouco pesadas e grudadas por uma espécie de resina operatória. Mas a questão fatídica é que ela fedia a cera de ouvido. Certifiquei-me de que meus dedos se mexiam e então levantei minha mão e tirei o excesso da tal resina. Textura e cheiro realmente idênticos a cera de ouvido, mas a cor não era, se é que isso serve como algum conforto.
            Tudo estava tão claro.
            Nítido, definido.
            A luz forte no alto era ofuscante e me impelia a fechar novamente os olhos.
            Eu estava sozinho no quarto, exceto pela pessoa cansada sentada ao meu lado. Não falava nada corporeamente, mas suas palavras enchiam minha mente. Como era seguro aquele homem e me dava uma sensação de paz revigorante. Perto dele eu não sentia dor.
            Mas então ele decidiu usar a boca e perguntou-me com palavras jubilosas:
            - Como foi a cirurgia?
            - Graças a Deus, tudo bem! – respondi com voz rouca.
            Ele deu um sorriso torto, mas naquele instante a enfermeira irrompeu pela porta. Analisou-me e enfim, disse:
            - Bom dia, Saymon! Como você está?
            Respondi que estava bem, mas reclamei da dor aguda em minha garganta e no meu peito. Era como se eu tivesse dormido com uma pedra sobre o meu peito durante dois dias. E então ela me perguntou:
            - É... Saymon, você sabe onde está?
            - No centro cirúrgico, não é?
            - Não Saymon, você está na UTI.
            “UTI? Última Tentativa do Individuo?”. Fiz aquela terrível piada mentalmente e cheio de incredulidade, ao mesmo tempo em que me preocupava com a situação de minha mãe.
            Eu fiquei apático. Entrei no centro cirúrgico para fazer uma cirurgia simples, adenoide, 45 minutos no máximo. Eu sairia consciente, mas não! Comigo tinha de ser diferente. Tive complicações e já estava há 18 horas na UTI.
            - Como assim? – perguntei ainda incrédulo.
            - Bom Saymon – começou a enfermeira – não vou te deixar sem explicações. O fato é que seu organismo não reagiu bem a anestesia geral e quando você começou a voltar a si sua pressão baixou absurdamente rápido. Isso causou uma complicação séria no fluxo de ar, o que encheu seus pulmões de líquido. No ato, tivemos que entubá-lo e esperamos. Mas você forçava muito para respirar e sua pressão continuava caindo. Foi então que começou o processo de coma e não tivemos escolha. Levamos você para a UTI.
            - Tudo isso?  Mas, e a minha mãe?
            - Fica tranquilo, ela já foi avisada e já veio te ver, mas você estava inconsciente. Infelizmente nem ela pode entrar.
            - Que horas são?
            - Oito da manhã.
            Só naquele momento que eu pude perceber o relógio antigo pendurado na parede bem a minha frente. Era tosco e irritante. Apesar das primeiras horas da manhã o sol já era forte, mas sua luz era roxa ali dentro por conta do adesivo escuro nas janelas diminutas.
            - Eu tenho uma última pergunta... Quem era aquele médico que estava aqui no quarto comigo?
            - Olha, havia uma equipe de seis médicos.
            - Não, não pergunto na hora da cirurgia, pergunto agora a pouco, umas sete e meia.
            - Bom, não havia ninguém aqui, só você, Saymon. Mas, fica tranquilo, descansa que já, já passa o efeito da anestesia por completo.
            De fato, eu estava bastante cansado. Depois daquela breve conversa eu comecei a analisar os grãos de poeira e minúsculos fiapos de pano que flutuavam num lento balé. Giravam como pequenos planetas, movendo-se em torno uns dos outros numa dança celeste.
            A poeira era tão linda que inalei, chocado; o ar assoviou por minha garganta, fazendo rodopiar os grãos de pó. A ação parecia errada. A ação ERA errada. Naquele momento minha traqueia gritou de dor e meu peito resfolegou. Meus pulmões não esperavam por aquilo e reclamaram com o súbito influxo. Mas não era só a dor que incomodava, a sede era absurda. Arranhava minha garganta e enchia meus olhos de lágrimas. Eu estava há quase nove horas sem água.
            Acalmei-me e esperei. Alguns minutos depois a enfermeira trouxe-me uma maçã, um copo generoso de suco de cajá e alguns biscoitos. Ignorei os itens sólidos e bebi todo o suco em poucos goles. Como era bom ter algo líquido para apaziguar os sentidos! Em seguida comi a maçã e os biscoitos bem devagar, para não machucar.
            Terminei minha refeição matinal com custo, mas agora eu queria muito descansar. Era bom estar vivo de novo. Ali eu prometi nunca mais morrer e em seguida caí em sono profundo, mas calmo.

            Acordei duas horas depois, bem mais calmo e cuidadoso para não fazer movimentos bruscos. Novamente a enfermeira veio e dessa vez trazendo roupas. Sim, eu estava totalmente nu embaixo dos lençóis. Achei extremamente desnecessário e constrangedor, mas enfim, eles sabem o que fazem.
            - Aqui Saymon, se vista, pois voltaremos à ala C, no seu quarto. Sua mãe e suas tias o estão esperando. Tome...
            “Que horror!” pensei “Isso é um saco!”.
            Bom, a roupa era uma negação, cabiam três Saymon’s dentro dela e tinha aquele cheiro irritante de sabão de coco. Mas enfim, definitivamente era melhor do que sair ainda nu de lá. Vesti-me em silêncio enquanto a enfermeira saía para ir buscar algo. Eu não sabia do que se tratava.
            Minutos depois ela voltou empurrando uma cadeira de rodas. “Agora sim minha mãe se desmancha”, pensei eu. Com certeza seria mais aterrorizante ainda para ela me ver de cadeira de rodas! Mas infelizmente eu ainda não conseguia andar. E cedi sem delongas. Sentei-me na cadeira e quando comecei a ser empurrado para fora da UTI, fui me despedindo de todos e prestando muita atenção nos detalhes.
            Vi muitos aparelhos, paineis estranhos que mais pareciam a cabine de um avião. Vi um velhinho que delirava e pedia água a cada vinte segundos. Vi uma mãe que chorava de preocupação e naquela hora meu coração doeu.  Queria sair dali logo.
            À medida que nos aproximávamos da saída o meu coração pulsava cada vez mais forte. Testei mais uma vez, mas agora com delicadeza, a minha capacidade de respirar. Apesar do nariz muito cheio de gases, eu captava alguma coisa.
            Já podia saborear o corredor a minha volta. Saborear os adoráveis grãos de poeira, a mistura do ar estagnado com o fluxo levemente mais frio que entrava pela porta aberta. Saborear um luxuriante sopro de seda. Uma leve sugestão de alguma coisa quente e desejável, algo que deveria ser úmido, mas não era. Esse cheiro fez minha garganta arder, seca, um eco relativamente ainda forte da entubação, embora o odor estivesse contaminado pela intensidade do cloro, da amônia e antibióticos.
            Era emocionante o quanto eu podia perceber os cheiros agora. Continuamos avançando até parar em frente a porta do quarto 62 na ala C. Ali, na porta, eu podia sentir o gosto de um cheiro parecido com mel, lilás e sol, que era o mais forte e próximo a mim.
            “Toc, toc, toc”, três vezes a enfermeira bateu na porta.
            Ouvi o barulho das passadas no quarto e as pessoas que pararam de respirar por um breve momento. O ar parou, todas as atenções além da porta voltaram-se para o que estava atrás das fibras da madeira. Logo ali, vivo de novo e um tanto confuso. E a porta foi aberta.
            Estava ali minha mãe, minha tia Marta, tia Neli e tia Ezilene. Mas havia no canto do quarto uma figura muito serena que alterou sua expectativa de forma quase imperceptível. Daquela distância, na penumbra, eu não conseguia distinguir quem era.
            Todas se aproximaram de mim, chorando, louvando e me deixando ainda mais confuso. Então a figura se aproximou e gritei:
            - ALINE!
            Abracei-a com força, até doer minha garganta e meu nariz. Sim, eu sabia o porquê de ela estar tão mais serena do que o habitual. Aline sempre soube que eu estaria de volta. Estava ali para se certificar e eu me sentia extremamente gratificado.
            Depois de responder a uma série de perguntas fui para a maca. Estava muito cansado. No aparador ao lado da cabeceira estava tudo intacto. Meu exemplar de “Crepúsculo” que terminara de ler a caminho do centro cirúrgico, um frasco do perfume “Priprioca”, meu preferido; meu MP4 player e meu pijama. Meus olhos se encheram de lágrimas e um turbilhão de memórias e ponderações veio a mim.
            “E se eu não voltasse?”. Todos estariam agora olhando minhas coisas com pesar, ou nem estariam conseguindo olhá-las.
            “Por que eu voltei?”
            “E agora? Por onde me nortear?”
            Sim, eu era O assunto em todas as alas. Todos diziam que a minha volta era um milagre. Afinal, eu tivera três possibilidades de morte diferentes e escapara das três.
            Perguntei que horas eram e passava um pouco do meio dia. Aos poucos tudo ia se normalizando. Tia Marta tinha seus afazeres, tia Ezilene precisava ver seus filhos, tia Neli precisava se preparar para uma cirurgia que faria dali a cinco dias. Aline também tinha seus afazeres, mas foi prometendo voltar.
            Ficamos só eu e minha mãe. Eu queria muito tomar um banho e já tinha a convicção de fazê-lo sozinho. Pedi minha toalha e me dirigi para o banheiro. Lá eu me despi lentamente, usando apenas o braço esquerdo, pois o direito ainda mantinha o soro preso a veia.
            Estava apertado e então, urinei.
            DROGA, DROGA, DROGA!
            Doeu e ardeu muito, pois ainda na UTI havia uma sonda em meu canal uretral. Mas acredite: aquilo não foi o pior para mim. O pior foi descobrir o quanto xixi fede. E ainda mais misturado com antibiótico! Que horror!
            Tomei banho, passei bastante sabonete no rosto para retirar os resquícios da desagradável resina. Lavei o cabelo que estava áspero e suado. Pronto, agora estava vestido com meu pijama que não era mais bonito que a roupa hospitalar, mas pelo menos era algo justo ao meu corpo.
            Abri a porta do banheiro e fui andando lentamente para a maca. Minha mãe me ofereceu ajuda, mas eu recusei. Eu já havia dado trabalho demais.
            Naquele mesmo instante a enfermeira chegou com dois potes de sorvete. Aleluia! A melhor parte! Napolitano, é bom lembrar. Sentei-me na maca e me deliciei. Coisas geladas amainavam o ardor da minha garganta.
            Depois, dormi um pouco, acordei, Aline chegou e conversamos a tarde inteira. No decorrer do dia alguns parentes próximos vieram me visitar, mas as oito da noite acabou o horário de visitas. Tomei mais um banho, mais sorvete, no jantar uma sopa horrível e fedorenta. Assisti um pouco e quando já não aguentava mais de tédio, decidi dar uma volta pelos corredores.
            Tudo estava extremamente silencioso, os sons da avenida logo ao lado do hospital não penetravam as janelas. Senti-me como se estivesse preso em uma bolha, num invólucro de puro alívio e incerteza. Ainda procurava um sentido para tudo aquilo. Voltei ao quarto, deitei-me e caí em sono profundo e conturbado. Sonhei com vampiros, correria, anjos, luzes e pessoas estranhas. Às duas da manhã fui acordado para fazer limpeza nasal. Era ruim ter soro em seu nariz e lutar para não engolir a mistura ensanguentada.
         Dali para frente faria a limpeza seis vezes ao dia por seis dias. Demorou um pouco para que eu conseguisse dormir novamente, mas consegui, e dessa vez sem sonhos perturbadores. Acordei as 7:30 para mais uma limpeza. Tomei café, depois um bom banho e me vesti com roupas normais para esperar minha alta.
      As nove horas, mais uma surpresa: entram no quarto minha amiga Larissa e minha irmã Samara. Nem preciso descrever o chilique que minha escandalosa irmã fez. Larissa virou-se e me disse, em tom brincalhão:
        - Filhote, como é que você me dá um susto desses?
      Apenas sorri e contei tudo o que havia acontecido. Bastante tempo depois enfim eu estava diante da médica, Doutora Fabrícia. Então ela se aproximou, afagou meus cabelos e disse:
     - Eu sabia que um dia, Saymon, você teria que revelar sua condição vampira. Nada de sol por um bom tempo, mocinho.
E eu disse:
- Que ótimo! Não gosto de sol mesmo!
Mas naquele momento eu percebi o quanto eu queria os raios de sol me esquentando, acariciando minha pele, brincando em meus cabelos e prendendo-se em meus longos cílios. Eu queria vê-lo de novo.
Preparamos tudo, me despedi da equipe médica, amigos que ali trabalhavam e desci lentamente a escadaria, cuidando para não passar pelos focos de luz. Era mais uma brincadeira do que ser cuidadoso. Mas na escada eu me deparei com um quadro. Era uma equipe médica operando um paciente e atrás deles estava Jesus supervisionando a cirurgia. Abri um largo sorriso e louvei em silêncio.
À medida que nos aproximávamos da saída do hospital, já no saguão de entrada, eu sentia novamente o cheiro que lembrava mel, lilás e sol, trazendo novos sabores. Canela, jacinto, maçã, água do mar, pão no forno, pinho, baunilha, priprioca, musgo, lavanda, rosas, chocolate... Fiz uma dezena de comparações em minha mente, mas nenhuma se encaixava com exatidão. Muito doce e agradável.
Então, aquele era o cheiro que tinha a vida? Aquele era o cheiro da felicidade? Bom, eu realmente não sabia. Dei uma olhada nas paredes tristes e nos vidros fumês: nada agradável.
Lá fora um táxi me esperava (na sombra, é bom lembrar) e quando saí, uma rajada de vento levantou-se , e o calor da manhã me envolveu.
Vinte e dois de maio de dois mil ‘inove’ era o meu novo aniversário. Eu nascera de novo. Por algum motivo, escapei de três maneiras de morrer de uma só vez. A Morte deveria estar furiosa comigo. Mas eu nem me importava. Mas... Por que eu? Qual o motivo disso tudo?... Eu realmente não sei. Só sei que a partir dali tudo seria diferente. Afinal: 'No tear que tece as nossas vidas não há fios com pontas soltas. Todos estão entremeados entre si e revestidos de significado (Yuko Ichihara)'.


Originalmente escrito em: 10/09/2009, ás: 14h49min


Um sorriso grogue para celebrar o recém (re)nascimento :)
Essa foto completa exatos três anos hoje. E se vocês repararem perceberão que minha cavidade nasal direita está um pouco machucada. Sim, esta é a foto que tirei assim que cheguei em casa, do hospital, depois de ter ficado em coma.
Sinceramente ainda fico sem palavras para descrever o que sinto nesta data, para descrever tudo o que ela significa para mim. O fato certo é que este é um momento que representa o quanto posso contemplar toda a beleza da vida, sentindo toda uma Via Láctea de sentimentos dentro do meu peito... Pulsando e irradiando a vida com a qual eu tanto me importo agora.

Três anos se passaram e enfim, tanta coisa mudou, tanta coisa está diferente. Mas sinto, neste momento, que estou me direcionando para as coisas certas. Sinto uma satisfação tremenda, mas óbvio, sempre disposto a mudar e enfim, ir sempre em frente.
Obrigado a todos vocês que fazem parte da minha nova vida e dos meus novos dias.
Beijos e abraços!

Ao som de "I Remember", Damien Rice.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A fim de que os rumores se calem

Sabe, há meses muitas pessoas vêm me falando o que estão achando de mim, de minhas novas ações e novo jeito de ser. Agradeço muito por serem tão completos na hora de expor o que pensam sobre mim, mas infelizmente lamento desapontá-los, pois não concordo com absolutamente nada do que disseram. Nada mesmo. Nem de longe.
Vou tentar explicar, mas, sinceramente, não creio que entenderão porque acho que estamos em momentos diferentes. Mas o fato é que ninguém nunca morreu por tentar, então lá vamos nós.
Já que é pra polemizar, então seguiremos sob a óptica religiosa. Tá, até eu acho absurdamente engraçado o fato de eu ter frequentado uma Igreja Evangélica por algum tempo (por favor, não levem a mal. Só me é bastante engraçado porque enfim, não tem NADA HAVER comigo). E enfim, muitos tripudiaram acerca disso e, assim como as pessoas fecharam a cara, os “irmãos” de dentro da Igreja não se importaram nem um pouco em encher a minha cabeça de nós. Como podem notar: a confusão é geral!
E pairavam (e pairam) perguntas de todas as sortes: “Você não é mais bruxo?”, “Você não era evangélico?”, “Você não nasceu em berço católico?”. Bom, com relação a essas perguntas eu pergunto, também: “Vocês já cresceram e analisaram as várias faces da vida? Pararam para pensar que as pessoas tem capacidade de pensar por si só?”.
Detesto o modo como as pessoas me julgam como se eu fosse um ser humano totalmente diferente do que eu sou. Eu sinceramente gostaria que não me confundissem com outra pessoa, dessas que se entregam aos rumores, que se acham superiores por apresentarem esboço de entendimento de algo muito complexo e que é levado adiante com descaso e cegueira.
Não gosto de levantar bandeiras ou defender a bruxaria, o catolicismo, o protestantismo ou qualquer que seja a religiosidade ou filosofia como se fosse uma causa. Defendo causas, mas não essa. Por quê? Porque sei que cada tem o seu momento e basta paciência para que outros cheguem ao nosso caminho (ou nós cheguemos aos caminhos deles). Não esperem isso de mim, não vou levantar bandeira nenhuma a este respeito. Deixe isto para os altos sacerdotes do nono clã de não sei das quantas e associações especialistas em levantar bandeiras. Eles fazem isso muito bem (e geralmente, é só isso que fazem mesmo).
Outra coisa que falam é de como eu era no passado, quando tudo começou. Ah, meus queridos, conhecer o Saymon do passado? Só viajando no tempo! Vocês também não são os mesmos e se forem, é porque estão fazendo alguma coisa errada. Parem com essa paranoia de religião, Igreja Católica, Evangélica ou Wicca com relação a mim. Não concordo em nada do que diz que iniciações coloquem você em uma religião. Religião é uma criação dos homens e já matou mais gente do que doença. Suas escolhas não tem nada haver com religião, é um assunto entre você e a divindade.
E alguns ainda me dizem: “Você não pensava assim antes!”. Bom, respondo com reciprocidade as suas exclamações: Não, eu não pensava assim antes. Na verdade, pensava mais como vocês.
Dá o que pensar, não?
Espero que tenham tirado algumas das suas dúvidas e espero também que não fiquem tristes por eu não ter dito o que gostariam de ouvir. Um conselho: vivam suas vidas e seus caminhos. Mas vivam do seu jeito, não do meu, pois cada tem um caminho e é legal viver num mundo em que cada um tem liberdade de escolha.
Por favor, apenas tenham cuidado com regras, dogmas e leis que instituições e religiões impõem como coisas divinas. A maioria é coisa bem humana. E tenham cuidado com um vício que eu tenho notado em muita gente: A certeza. Sempre que alguém assume que está irremediavelmente certo, há algo que sempre se encarrega de mostrar-lhe que estava errado. Em nenhum momento, em toda essa confusão, em todo esse pandemônio, ninguém deu margem para me perguntar o porquê de certas posturas. Julgaram e condenaram. Simples assim. Certamente porque supõem saber mais do que eu. Talvez saibam, mas com esse orgulho todo lhes falta visão. Antes de fincar o pé, experimentem os sapatos dos outros, olhem tudo de outra perspectiva. É um grande exercício que ensina a empatia e a humildade, virtudes sem as quais a sabedoria é uma meta inalcançável. Assim como toda decisão, religião sem sabedoria é uma queda muito feia.
E deixo um recado claro para aqueles que realmente sentem a minha falta:
Para matar essa saudade é só abrirem os olhos e enfim, se livrar dessa cegueira na qual vocês se confinaram.


Ao som de "Serpents", Sharon Van Etten.