sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Crônica de uma partida anunciada



- Mas eu não posso ficar! - sentenciou ele veementemente.
- Não seria a primeira vez que você não me ouviria...
- A questão nem é essa, carinho. A verdade mesmo é que eu já ouvi demais e consequentemente parei demais por conta dessas intempéries.
- Será que eu poderia tentar provar que você não deve ir?
- Faça. Ao menos por hoje eu não me abstenho de encontrar algum sentido no que você me diz.

Sentou-se e esperou. De repente a figura irrompeu pela porta trazendo consigo um pesado dicionário que parecia ter sido escrito a mão. Esforçou-se um pouco para segurá-lo pela borda enquanto folheava rapidamente com o intuito de achar as palavras certas para a hora certa. De repente sua expressão se tornou um pouco mais alegre e agora mostrava uma certeza muito latente num sorriso que começava a brincar nos seus lábios. Entregou o grande livro aberto para ele que leu o verbete e a sua significação em voz alta. E dizia:

> UMA DEFINIÇÃO NÃO ENCONTRADA NO DICIONÁRIO <
Não ir embora: ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças.

Olhou para a pessoa a sua frente, fixou-se em seus olhos por longos minutos. Pensou na vida, pensou no passado, pensou no presente e enfim, focou-se novamente no futuro como vinha fazendo há dias. Segurou com força a alça da maleta que estava ao seu lado, esperando uma decisão. O couro sintético rangeu, adaptou-se ao formato de seus dedos que o envolviam com segurança do que fazia.
- Nem eu e nem você somos mais crianças.

Com um último resquício de sua tão teatral forma, deu-lhe um beijo na testa.
Saiu sem olhar para trás. Por muito tempo não se ouviria falar dele, tinha certeza.


Ao som de "Dark Paradise", Lana Del Rey

3 pessoas se inspiraram:

Bruninha disse...

Oi Saymon!!!
Estou tão orgulhosa de poder comentar no seu blog.
Q lindo!! ^^
Não sei pq, mas lembrei da música ''Vá'' da Vanessa da Matta,neste seu post.Pode ser viagem minha,kk
Bjos de sua amiga de longe.

Babi Paixão disse...

NHOW *-*

Anônimo disse...

Eu espero sinceramente que quem foi embora conheça a música The Call, da Regina Spektor : "eu voltarei quando você me chamar , não precisa dizer adeus".
Suas palavras doces e melancólcias fizeram muita falta . Só agora pude realmente me dar conta disso !
Um beijo estalado ;*