quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ininterrupto

O silêncio, a escuridão, o torpor. A água não se tornara algo represável, mas ao menos por aquele instante era uma parede de concreto revolta e gelada. Ele não teve tempo de segurá-la, não pôde gritar para que ela pusesse o cinto, não conseguiu ser rápido para evitar que o movimento brusco pusesse fim em sua respiração, diminuindo em muito a sua chance de permanecer ali, com ele. Mesmo em meio à balbúrdia da água que entrava misturada aos estilhaços e ao sangue em sua boca, ele tentou fazer com que a correnteza não puxasse o seu corpo quase inerte para fora. Aos poucos seus músculos pareciam se afrouxar por sobre os seus ossos, como se sua carne também se desfizesse. Sem forças, foi levado para fora da cabine submersa, e ao sentir-se liberto do cinto reuniu suas últimas forças para chamar pelo nome dela. O esforço, já sabia, foi em vão. Nenhuma réstia de luz penetrava o teto aquoso que se estendia sobre eles. Era um espetáculo de sons abafados, terror abjeto e medo, muito medo.
De súbito foi arremessado para longe por um turbilhão que rodopiou seu corpo fraco. Não conseguia mais pensar em nada, até ir de encontro a algo sólido. Seu crânio pareceu rachar e naquele momento perdeu qualquer resquício de quem era ou do que estava fazendo ali. Deixou-se boiar. Entendeu que se lutasse, morreria primeiro de cansaço.
Quando enfim suas mãos roçaram a areia da margem lamacenta, apenas se arrastou lentamente. Podia ouvir bem distante o som das ondas que roncavam sobre as outras, das gotas que se uniam na superfície do rio que sofria debaixo da sova que recebia do céu. Puxou seu corpo exausto, procurando sustentação no capim que crescia na margem. Quase morto, fechou os olhos. Sentia que perdera algo muitíssimo importante debaixo de todo aquele mundaréu de água, mas infelizmente não se lembrava do que era.
Com os olhos embaçados, viu num nível superior ao dele, na outra margem do caudaloso rio, dois faróis que retornavam em alta velocidade por o que parecia ser uma estrada interrompida. Antes de fechar os olhos para definitivamente esperar a morte, pensou em Deus. Se Ele existisse, que ao menos tivesse piedade de sua alma.

- Exatamente – disse Deliverance sem alterar sequer uma ruga do rosto. – Sophie sempre me falou de vocês. Gostava muito de ambas e uma vez me disse que isso se devia ao fato de que protegiam Christopher.
Um pouco envergonhada, Konstantine baixou a cabeça de forma quase imperceptível. Era estranho pensar no quanto aquela observação a incomodou. Aquilo tinha mudado muito nos últimos tempos. Deixara de lembrar-se de Christopher, deixara de se importar com ele, simplesmente porque achava ter questões mais urgentes. E realmente, as tinha. Uma vez ou outra, num dia chuvoso ou frio, seu nome lhe ocorria. Mas era só uma lembrança. Um tempo bom que passara. E de repente o que ela mais queria era sair dali. Detestava enfrentar suas próprias verdades.
- Ela falava muito pouco da família – recordou Emilie – e ainda assim não mencionava o nome de ninguém. Chegou a nos falar de sua mãe vez ou outra, mas nunca se referiu a você como Deliverance. Apenas dizia “vovó”, com muita ternura, é claro.
E os olhos baços da anciã tornaram-se ainda mais nublados. Ocorreu-lhe um afago distante em sua alma e o perfume de sua neta veio até as suas lembranças. Algo como madeira velha e flores do campo.
- Sabem, por um segundo eu achei que eu nunca o perdoaria. Ele tinha feito aquilo de novo. Quando ele veio até a minha casa, o que eu queria era matá-lo. Na verdade queria que ele tivesse ido junto com a minha Judith. Mas ele estava tão desesperado, parecia uma criança com medo do escuro. Naquela noite ele chegou a minha porta molhado até a alma, enlameado, e só conseguia pronunciar “Sophie” e “Christopher” ininterruptamente.
- Do que é que a senhora está falando? – perguntou Konstantine, novamente atenta a conversa.
- Me desculpem mais uma vez – lamentou pondo a mão em sua testa. – Eu estou falando da noite da morte da minha neta, mas é que preciso também falar que tudo se repetiu.
Definitivamente nada mais fazia sentido para Emilie e Konstantine. Deliverance parecia misturar certos elementos que eram totalmente alheios a elas. Mas acharam melhor deixar que a mente senil da senhora ali presente trabalhasse da forma que mais lhe aprouvesse.
- Fique calma – balbuciou Konstantine parcimoniosamente.
- O que quero lhes dizer é que a mãe de Sophie padeceu do mesmo fim que sua filha. Também ela foi tragada pelas águas. E ele, ele não deixou de ser responsável em nenhuma das vezes. Mas é que eu coloquei no mundo a mulher mais forte e geniosa que aqui pisou. Sei muito bem que Sophie era uma extensão de Judith. Uma extensão sem arremedos. Era a continuação intacta de sua progenitora.

- E foi isso, Gregory – finalizou Christopher com extremo alívio, porém muito pesaroso.
- Agora enfim se lembra da pessoa que sou, não é mesmo?
- Sem dúvidas.
- Quando eu voltei para buscar ajuda, jurei ter chegado tarde, Christopher. Jurei ter perdido tanto Sophie quanto você.
- Só agora também me lembro de que chorei sobre um túmulo vazio.
- Está aí algo que nunca me convencerá da morte de Sophie. Seu corpo nunca foi encontrado.
- Naquela noite choveu demais, Gregory. Estranho seria se ela viesse à tona com todo aquele turbilhão. Eu não enxergava nada, não consegui chegar até o cinto dela. Nós estávamos marcados para morrer, hoje tenho certeza.
- E eu a matei, também.
Christopher nunca pensou ver a cena que se seguiu. O investigador ajoelhou-se à sua frente, fechou os olhos com força e segurou suas mãos, pedindo perdão fervorosamente enquanto seu peito começava a convulsionar e encher-se de soluços. Mas àquela altura, a última coisa na qual Christopher conseguia pensar era em ódio. Estava leve como nunca havia estado. Foi como se tudo aquilo tivesse sido o seu reencontro com Sophie. E de alguma forma aquilo a deixou mais vívida dentro de seu coração, a despeito da dor, da dúvida e da perda.
- Levante, homem. – disse Christopher com um estranho sorriso – Antes mesmo que eu te perdoasse, Sophie já o teria feito.
Puxou o braço do homenzarrão a sua frente, a fim de ajudá-lo a se levantar. Abraçou-o com força, ouvindo o choro que parecia ser o de um menino assustado. Dissera aquilo apenas para apaziguar a situação. Sabia muito bem que não importa quanto tempo passasse Sophie nunca perdoaria o pai. E agora também não o perdoaria por estar ali, compactuando com o mesmo.

- Foi uma noite maldita.
- E por que? - perguntou Konstantine, curiosa.
- Sophie tinha então dez anos e o casamento de Judith e Gregory ia da paz à guerra. Naquela noite ela decidiu que tudo acabaria, então deixou Sophie aqui comigo e voltou para arrumar as malas. Eu estava com tudo organizado para esperar a sua volta, mas de algum jeito meu coração sentia medo. Quando Judith saiu por aquela porta – disse ela apontando para o lânguido corredor que levava à sala de estar – eu sabia muito bem que não a veria viva novamente. Mas ninguém pode viver o destino do outro, não é mesmo?
- Mas, de qualquer forma, era a sua filha... – sentenciou Emilie impressionada com a sua ousadia em dizer aquilo.
- Sim, é claro, mas eu mesma, por toda a minha vida questionei que brio era aquele que nasceu com minha filha. Eu nunca fui de guerrilhas, nunca fui de rompantes. Tenho cá minha magia, bem sei, mas sempre fui de vidro. Judith não. Judith era de aço, sua filha de diamante, não duvido que minha neta pudesse por no mundo uma mocinha talhada em titânio puro. Parecia que a força do seu ventre apenas se renovara em Sophie. Eu mesma nunca tive coragem de desbravar a mata daqueles olhos, nunquinha. Para mim era um mistério, aquele arvoredo. Tenho plena certeza que Christopher viu de perto a fúria que escapava dos olhos da minha neta. Só ele teve a chance de conhecer aquilo de perto. Ele, com aqueles olhinhos de noite sem lua, sem nada para iluminar o caminho, teve de se achar em meio a apalpadelas e subentendimentos.
- Essa é uma das especialidades dele – disse Emilie de repente se lembrando de que bem ali, a poucos metros, estava ele. Sabia que a essa altura, tudo deveria estar em seus devidos lugares.

- O pior foi quando você fugiu do hospital.
- Eu acordei sem saber quem era, sem saber onde estava. Mas na noite anterior, depois de três meses de coma, acordei com um endereço em minha cabeça. Minha mente me dizia o tempo inteiro para ir a uma tal de Alameda Riven Bauer, no número 9.
- Aqui mesmo, do outro lado da rua. A casa de minha sogra.
- Deliverance me acolheu como se eu fosse a mais preciosa das coisas. Mas eu não sabia quem era ela, nem porque estava ali. Me acolheu sem rodeios e quando enfim lembrei certas coisas de mim e do meu passado recente, vendeu-me esta casa por um preço muito amistoso.
- Eu acompanhei tudo de perto, Christopher. Quando soube que estava com ela, fiquei bem mais tranquilo.
O rapaz bem sabia que todo o suporte financeiro que Gregory dava à Deliverance atendia por um nome. Ou, para melhor exemplificar, um sentimento: a culpa. O investigador pareceu se lembrar de algo importante enquanto apalpou os bolsos freneticamente. Quando encontrou o volume que procurava, pôs-se a caminhar para a porta.
- Preciso ir buscar uma coisa – explicou ele abrindo a porta para o jardim escuro e molhado.
Quando Gregory pôs os pés fora, a eletricidade voltou a iluminar a casa com seus lustres velhos, de uma moda passada. Christopher foi até a janela observar o mundo lá fora, foi então que percebeu, olhando contra a luz dos postes que preguiçosamente voltavam a se acender pela alameda, que a chuva praticamente cessara. Ouviu um ronco que instantaneamente lhe pareceu muito familiar. Viu um par de farois se aproximar por entre as frestas da cerca viva e parar ali diante do seu portão. Será mesmo que aquilo era o que ele estava pensando?

E então Deliverance contou tudo. Contou da derradeira briga entre Judith Bartlett e Gregory Thompson, de como sua filha avançou pela estrada até se deparar com a ponte que nunca encontrara a outra margem do rio, de como o amor de Gregory por vezes era sufocante, do quanto Judith sentia-se presa e por isso continuou com o carro até que este saltasse para o que seria o seu fim. Contou que naquela mesma noite Sophie acordou aos gritos e disse estar se afogando, contou que ela também se deparou com a face da morte, de como, exatamente como na data da morte de Sophie, Gregory adentrou a sua casa desesperado e sem chão.
Narrou também da fuga de sua neta, dos planos velados, da promessa de um novo futuro, do quanto amava Christopher e confiava somente nele para ir junto de sua Sophie. Contou como mais uma vez Gregory tinha entregado a outra mulher de sua vida para a morte, para o fundo de um rio debaixo de uma tempestade voraz. Falou da sorte das mulheres daquela família, perdeu-se em sentimentos que nem ela sabia nomear, elencou diversas saudades. E no meio de tudo aquilo, tanto Emilie, quanto Konstantine perguntavam-se o que Deliverance pensava de Gregory Thompson, o homem que invariavelmente havia posto fim em sua família. Não se contentaram, e então perguntaram, em uníssono:
- E o que a senhora pensa sobre o investigador, Deliverance?
- Eu? Eu não penso mais nada. Do que sei é que Deus o fará amargar o fel dos seus dias até o fim dos tempos.

Com um assovio longo e lisonjeiro, Gregory Thompson chamou Christopher pelo vão do portão. Dirigiu-se para fora sem ter ideia do que lhe esperava. Somente se perguntava quando é que ele poderia sentar-se e descansar um pouco, exercitar um ócio que não se amigava dele já havia algum tempo. Quando saiu para a calçada juncada de folhas mortas, olhou incrédulo para o objeto que estava ao lado do meio fio: o Oldsmobile estava ali, novo, sem um arranhão sequer.

- Depois que Christopher acordou desmemoriado do coma, ele veio bater em minha porta. De alguma forma este era o único lugar que ficara cravado em sua mente, mesmo que ele tenha vindo aqui apenas uma vez, numa de suas viagens escondido com Sophie.
- Não deixaria de ser um porto seguro, não é? – disse Konstantine com uma nova ternura nos olhos.
Tanto ela quanto Emilie já tinham se afeiçoado muito àquela senhora. Tinham conversado por horas com ela, tomaram gosto pela poesia de suas palavras, pela forma com a qual mostrava levar a vida, pela magia que parecia emanar de sua pessoa. Sem dúvidas, ela era uma preciosidade viva.
Foi só aí que todas perceberam que a eletricidade havia voltado e que a lareira e a história lhe tinham tirado a atenção daquilo. Não importava, mas lhes ocorria que já deveriam estar de volta, que Christopher as esperava, que já tinham ocupado demais o tempo de Deliverance.
E então Emilie enveredou uma despedida, porém com a alma inquieta, como se esperasse mais revelações.
- Deliverance, eu realmente não sei descrever a nossa experiência aqui, mas é que temos de ir. Já está muito tarde para dormirmos no hotel e dormiremos na casa de Christopher.
- Eu já imaginava. E bem, não se preocupe, esta casa estará aberta a vocês quando bem quiserem!
Konstantine apenas sorriu levemente enquanto levantava junto a Emilie. Ambas foram caminhando com a certeza de um conhecimento de causa recentemente adquirido e que estaria com elas para sempre dali em diante. Deliverance seguiu-as pelo corredor, com os passos arrastados e um pouco cansados. Apanhou um xale estendido ali perto, na poltrona, e avançou para destrancar a porta.
O mundo lá fora se mostrava diferente de tudo o que já tinham visto. Depois de terem escutado tudo o que lhes fora contado, parecia não haver mais fronteiras. O céu ainda acastanhado parecia lamentar muitas coisas; o vento que ainda soprava parecia querer contar outros segredos. E a chuva lavara muitas coisas, a despeito do medo, do receio e das memórias. Não deixaram de dar um terno abraço na senhora poética que as acolhera tão bem e que, agora sabiam, era guerreira das mais valorosas.
O portão velho e enferrujado nas extremidades rangeu alto como se uivasse. Demorou alguns segundos para que as três mulheres se aprumassem diante do que viam. Christopher não conseguiu dizer nada, apenas apoiou-se na porta do Oldsmobile e cruzou os braços, como se esperasse algo de Emilie e Konstantine. Gregory Thompson envergonhou-se, não sabia muito bem o que dizer. Deliverance Bartlett apenas sorriu, bem ali, ainda parada na soleira do portão.
- Mas, como assim? – finalmente perguntou Konstantine.
- Eu ia contar agora mesmo ao Christopher. – explicou Gregory. – Quando tudo aconteceu eu não poderia deixar de procurar Sophie justamente no último lugar onde ela estava. Foi um grande esforço conseguir ajuda da prefeitura para que o carro fosse puxado de lá, mas quando ele finalmente veio á tona, só havia lama e pedregulho. De Sophie, nem resquício.
- Eu acho muito justo uma homenagem como esta, Thompson – disse Emilie enquanto examinava o interior do carro com discrição.
- Era o mínimo que eu podia fazer por vocês, pelo Christopher. Mas agora terei de ir. Por hoje todos precisamos descansar, foi uma noite longa, necessitaremos de tempo para digerir tudo isso.
Na verdade, Gregory Thompson não esperava uma reunião como aquela. Mesmo que não houvesse nenhum esboço de acusação, ele sentia olhares pesados sobre si, olhares que lhe diziam verdades que ele não queria ouvir. Tratou de sair rapidamente, fazendo uma mesura entrecortada, pondo-se a caminhar pela rua lustrosa e silenciosa.
Christopher desviou sua atenção do homem que se afastava, atravessou a rua e abraçou Deliverance com muito afeto e dedicação. Deitando sua cabeça sobre a dela, perguntou:
- E ele, Deliverance?
- Deixemo-lo com ele mesmo. Se nós merecemos, por que é que ele não?
Com mais um abraço, despediu-se da senhora. Segurou as mãos de Emilie e Konstantine e foi andando até a porta de seu jardim.
Aquela noite não seria sonolenta, nem muito menos silenciosa. Eles também precisavam conversar, isso era uma certeza que reinava absoluta.

Quando se sentaram para conversar sobre, descobriram que, mesmo em lugares diferentes, souberam das mesmas coisas. Christopher constatou que Deliverance havia contado toda a história de Judith, e, apostou ele, com toda a poesia e o pesar que usara para contar a ele, numa noite quente de um verão passado, enquanto estavam sentados na varanda, tendo as estrelas por testemunhas.
Emilie e Konstantine falaram de suas impressões, de seus sentimentos, do conhecimento de causa adquirido. De modo algum conseguiriam mensurar tudo aquilo que sentiram enquanto ouviam toda a epopeia das mulheres Bartlett. Além disso, também se sentiam estranhamente culpadas por não estarem junto a Christopher naqueles meses difíceis e borrados. Mas enfim, este era um momento de recomeço, de reparação.
- Vamos, quero que venham comigo ao quintal, meninas – disse Christopher com um tom que parecia ter algo mais.

E quando se levantou, viu a si mesmo no meio da escuridão. Emilie e Konstantine haviam sumido, chovia; a sua frente um rio furioso e alguém que se segurava aos juncos curvados pela tempestade. Era uma massa quase inerte, aquele rapaz. Deitou-se e olhou para cima, de modo que seus olhos encontraram os seus. Então lhe ocorreu uma cronologia inoportuna. Pensou que primeiro viriam os aniversários, as festas, balões coloridos, aquele baile de debutante que assistiu certa vez. Passou um olhar por todas as suas noites em claro. Depois viu os casamentos, os amores, os nascimentos e por fim chegou aos funerais, parou ali, ao pé de uma cama de hospital.  O jovem que ali estava implorava inconscientemente; gritava dentro de si para que não o levassem naquela hora, que ele não queria ir embora. Dizia ter tanto o que fazer, quem sabe até um filho teria, enfim, apenas tinha motivos pra crer que ainda não era hora.
Quando voltou de seu devaneio, percebeu que praticamente flutuara até o quintal. Quando uma lufada acarinhou seu rosto, pensou que todos iam rumo ao acaso e de certa forma sem nunca ter escolhido. “Não é questão de sorte,” pensou, “é jogo vencido”. Aquele era mais um de seus inúmeros epílogos e finais.
O imenso ipê farfalhava majestosamente no centro do quintal gramado. Daquela distância, o trio diferenciava três objetos que se erguiam do chão dispostos em fileira, bem abaixo da árvore que pareciam querer lhes dizer algo.
Quando se aproximaram, viram três lápides simples, de concreto, e em frente a cada uma delas, uma cova rasa e aberta. Emilie e Konstantine ajoelharam-se a fim de ler os respectivos epitáfios. E recitaram, vagarosamente:

Christopher Owens
* 04/01/1991  †15/07/2013

Konstantine Willhelm
* 12/10/1991 †15/07/2013

Emilie Morgan
* 11/05/1992 †15/07/2013

- Então é isso, Christopher? É exatamente o que tínhamos cogitado anos atrás? – disse Konstantine após terminar a leitura vagarosa.
- Sim, Konst. Esta noite nós enfim, morreremos.
Emilie levantou-se e abraçou o amigo. Se fosse alguém de fora, com certeza sairiam correndo. Mas sabiam exatamente do que Christopher falava.
- Pois bem – disse a moça de longos cabelos morenos – vamos lá dentro pegar nossos utensílios mortuários – e sorriu misteriosamente.
Ajudou Konstantine a se levantar, que segurou a mão de Christopher. Voltaram em silêncio para a casa. Era estranho morrer, era estranho deixar tudo para trás, mesmo que não fosse a primeira vez que aquilo acontecesse com qualquer um deles.

Continua...


Ao som de “Epílogos”, Agridoce.


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