sábado, 16 de fevereiro de 2013

Sobre ser Invisível e Infinito

"Depois que a música terminou, eu disse uma coisa:  Eu me sinto infinito" - Charlie. (p. 43)
Infinito. Exatamente essa a palavra que escolheria para descrever o livro "As Vantagens de Ser Invisível", de Stephen Chbosky. Dentre os leitores mais assíduos deste blog, deve haver os que estão se perguntando o que é que a foto com os atores está fazendo num post onde me proponho a falar justamente sobre uma expressão literária.
Quando fiz a resenha sobre o livro "Um Dia", de David Nicholls, eu deixei claro que prometi que não assistiria ao filme antes de ler o livro. E assim eu fiz também com "As Vantagens". Li com bastante esforço, pois tive de devolver o livro à dona e passei a lê-lo em e-book, desconfortavelmente. Eu me esforcei bastante, nunca consegui me virar direito sem o papel na mão e bem, não é o mais indicado para uma pessoa com miopia e astigmatismo.
O que acontece é que li o livro em tempo recorde, dadas as circunstâncias. Poucas horas depois vi o filme e não poderia ter ficado mais satisfeito. Mas, num primeiro momento, nos atentemos a uma análise do mesmo. Depois partimos para a questão cinematográfica.
Sabe quando você lê um livro que simplesmente não sai da sua cabeça? Que fica horas latejando, que faz suas mãos tamborilarem pensando nas coisas que foram ditas e constatadas ou mesmo questionadas e não respondidas? Ei-lo.
O que é mais apaixonante não são em si as cartas que Charlie escreve ao seu "Querido Amigo", mas sim a sua ingenuidade e sinceridade acerca do mundo lá fora. Tive dúvidas quanto a minha predileção por ele, justamente porque cheguei a achá-lo meio tonto, um pouco invisível demais.
"Ele é invisível. (...) Você vê as coisas. Você guarda silêncio sobre elas. E você compreende." - Patrick, sobre Charlie. (p. 48).

É exatamente aí que somos apresentados às vantagens de "portar" invisibilidade. E então muitas coisas foram se destrinchando diante dos meus olhos, de modo que pude selecionar e analisar uma de cada vez, na tentativa de me reportar a qual parte da minha vida tais questões se encaixavam e consequentemente poderiam ser dadas como experiência e conhecimento de causa.
Eu me identifiquei muito, é claro. Deste modo é compreensível que tenha me encontrado tanto em Charlie, quanto em Sam e em Patrick. Eu creio que por muito tempo eu não vá conseguir expor com clareza todas as coisas que este livro me fez pensar e me proporcionou, e isso sem precisar de linguagem rebuscada ou algo do gênero.
Não há como não lembrar da escola, das dúvidas, dos receios e medos, das cicatrizes, do valor das amizades e do descobrimento de sentimentos que denotam todo um caráter. Chbosky faz uma análise maestral das rupturas e mudanças presentes nesta fase, mas de uma forma tão sutil que propõe justamente o que eu considerei uma jogada de mestre: a de se auto-analisar para assim entender a nossa própria infinitude.
Assisti ao filme com os olhos marejados do começo ao fim, justamente porque  toda vez que uma adaptação cinematográfica é anunciada, é de praxe que eu torça o nariz e espere a pior versão possível. Felizmente não foi isso o que aconteceu, de verdade. Muito fiel ao livro, o filme emocionou com delicadeza. Além disso, os detalhes que fazem de "As Vantagens" uma adaptação impar, é justamente a excelente escolha da trilha sonora. Quando li o livro eu sempre dava um longo suspiro quando as bandas que eu mais ouvi na minha adolescência eram citadas.
The Smiths me encantou mais uma vez; Cocteau Twins me embalou como sempre o fez; Sonic Youth me levou às tardes introspectivas tentando aprender violão (o que nunca deu resultado) e David Bowie me chamou para ser herói, como o fez por muitas vezes enquanto eu escrevia longas cartas para desconhecidos, assim como Charlie.
Eu me atrevo a dizer que "As Vantagens de Ser Invisível" pode ter para os jovens de hoje a mesma importância que o "Clube dos Cinco" - de John Hughes - teve para a geração dos anos 80, justamente por mostrar de forma bem elaborada o caminho da adolescência, alternando sombra e luz, silêncio e balbúrdia e ao mesmo misturando tudo, numa faina que só esta fase de mudanças e intempéries apresenta.
É sem dúvida uma história infinita e sem dúvida eu me sinto infinito agora. E acho que daqui em diante é para sempre, na melhor significação da palavra.

"Então, eu acho que somos o que somos por várias razões. E talvez nunca conheçamos a maior parte delas. Mas mesmo que não tenhamos o poder de escolher quem vamos ser, ainda podemos escolher aonde iremos a partir daqui. Ainda podemos fazer coisas. E podemos tentar ficar bem com elas." - Charlie. (p. 221).



Ao som de "Heroes", David Bowie.

3 pessoas se inspiraram:

mialle disse...

quero ler, mas tô com coisa demais na frente. esse seu post está uma fofura de lindo e longo demais hahahhahaa
mas achei uma gracinha e estou com vontade de ver o filme (mas só depois de ler o livro, claro).

Adam Andrews disse...

Sabe o que eu acho. kkk' Maravilhoso o livro, o filme, a trilha sonora... muito bom, me identifiquei com muitos trechos do livro e com muitos personagens. Uma doçura de contexto, te faz rir, chorar e sentir raiva. Como disse: meu livro/filme preferido.

Babi Paixão disse...

como aconteceu com "Um dia" me senti intimada a ler esse livro e ver o filme. ;)