Depois de levar mais de um ano
para não se perder no caminho para a torre de astronomia, o garoto Setterwind
enfim acertara o lugar sem percalço algum. Especialmente naquela manhã ele
acordara bastante cedo; vestiu-se silenciosamente e a passos leves, deslizou
para o corredor como se fosse apenas mais um fantasma pelos corredores do
castelo. Seguiu pensando em como seria aquele novo ano letivo, pensou no que os
seus então doze anos de vida significavam agora que enfim estava no lugar
certo.
Não gostava muito de se entregar
a certos devaneios, pois, de alguma forma entendia aquilo como uma preocupação
adulta demais para ele. Mas é que enfim aceitara a maturidade que sem
precedente algum deu lugar a um jovem de poses diferentes, estranhas até.
Gostava de sentir a magia do castelo enquanto ia aos destinos de todos os dias.
Ia meneando a mão pelas paredes rugosas e pensava na magia de tantos séculos
que se encerrava ali, entre cada rachadura e seixos compactados. Estranhou não
encontrar Filch, nem Madame Nora ou mesmo algum inspetor àquela hora e então
julgou que deveria ter quebrado o recorde de todos os alunos na escola estando
de pé antes de todos.
O sol ainda não se levantara
sobre os campos de urze no horizonte, pairava no ar leve neblina que se
adensava abaixo da torre, tornando-a um anexo, um lugar a parte de Hogwarts. Ao
se aproximar do corredor em que as janelas se emparelhavam, ouviu certo
murmurar, percebeu uma inquietação que parecia vir de um grupo de pessoas que
estava além daquela parede. Avançou lentamente e quando colocou a cabeça para
olhar sorrateiramente, sobressaltou-se.
Minerva McGonagall olhava com ar
sereno pela janela, como se esperasse algo acontecer. Mais próximo dele,
Dumbledore ria pensando em coisas distantes e de repente olhou-o como sempre
fazia, por baixo de seus oclinhos de meia-lua.
- Junte-se a nós, caro Saymon
Setterwind! – convidou ele.
No espaço entre os dois
professores, um grupo de alunos também olhava atentamente para o horizonte, com
a mesma expressão de espera. Sobressaltaram-se com o convite do professor, e
então se viraram para ver quem chegava para também celebrar a chegada do sol.
Saymon Setterwind olhou todos com
ar débil, mas feliz por vê-los ali. Janaína Angelis, com os longos e negros cabelos
soltos e Fernanda Adler, na sua sempre oportuna morenice de olhos castanho
escuros, acenaram com um sorriso para que ele se juntasse ao lado delas. Dando
mais uma olhada, ele pôde identificar todos os que ali estavam. Viu Jaala
Garrett sorrir inocentemente por entre os cachos que emolduravam seu rosto e
brilhavam sob a luz pálida da manhã; viu Denise Woods, que ao lado da amiga
tentava se concentrar em não olhá-lo com expressão um tanto mística. Vyktor
Sanders, o esquisito garoto grifinório, também estava lá, alternando sua
atenção entre cutucões em Patrícia Winfield, a garota absurdamente engraçada que
puxava o cabelo do sempre sorridente Alexandre Wisely. Tamires Van Feu também
estava lá, sempre serena e de mãos enluvadas, na tentativa vã de encarcerar o
Toque de Cassandra abaixo do couro curtido. Para sempre aqueles olhos
acompanhariam Saymon, pois afinal de contas ela sempre soube de tudo. Até os
odiosos Jheferson Conl e Nivaldo Wislow estavam lá, mas naquele momento nada
parecia importar para eles, nem mesmo a sede de poder. A maldade que ele sabia
que habitava naqueles então jovens corações, não era párea nem para aquele
momento. Paula Madden vagueava entre olhar para os jardins lá em baixo e
insistentemente tentar tirar lascas da madeira do batente a sua frente,
enquanto sorria de forma terna para Saymon e acenava a varinha para os
fragmentos que rodopiavam e levitavam alguns centímetros acima de sua mão.
Letícia Mitchell esfregava as mãos e colocava-as levemente sobre as bochechas,
como sempre fazia nos momentos após acordar.
- É agora, professor. – lembrou
McGonagall.
Naquele momento o ar assumiu um
alaranjado intenso, inundando a cúpula da torre como se esta estivesse em
brasa. Lentamente as cores se tornavam mais amareladas e a luz solar preenchia
o castelo mansa e silenciosamente, deitando-se sobre tudo, desde os limites da
floresta proibida até as estufas, passando por cada fresta, corredor e
passagem, secreta ou não. Todos foram inundados de profunda ternura e seus
olhos se encheram de lágrimas.
Nunca existirá sentimento
semelhante ao de se sentir em casa. Era isso o que Hogwarts era para cada um
ali: o seu lar, o porto seguro de todos. Saymon segurou com força a mão de
Janaína que direcionou a ele um olhar que traduziu uma amizade profunda. O
garoto de cílios espessos apertou os olhos e abriu-os lentamente para então
perceber que estava agora no salão principal, mergulhado em mortal escuridão,
nove anos depois daquela memória.
Uma antiga espada cintilou no
canto de sua visão e ele avançou para apanhá-la. Jheferson também fez o mesmo e
agora ambos empunhavam suas armas, já que na luta foram desprovidos de suas
varinhas. Denise assistia a tudo da escadaria, como se estivesse fincada na
pedra. Pelas janelas Saymon podia ouvir o lamento de Jaiza Wolf, que chorava
abraçada ao corpo de Harry Potter.
Tom Riddle estava a alguns
metros, inerte. Eles se viraram para ver quem se aproximava correndo em meio ao
salão e puderam perceber a silhueta de Maiza Wolf desenhar-se sob a luz dos
feitiços que ricocheteavam pelos corredores e estilhaçavam as paredes. Passou
furtivamente por ambos, queria parar, deferir um “Sectumsempra” contra o
pérfido Conl e dizer a Setterwind e a Woods para que ambos corressem para
longe, pois aquela era uma guerra perdida. Mas na verdade ela precisava correr
rapidamente para amparar sua irmã. Olhou Saymon nos olhos e ele percebeu que
aquilo era um adeus.
Ambos apertaram com força a base
das espadas que empunhavam e avançaram com fúria e ódio.
Setterwind então finalmente
entendeu que nenhum dos dois sairia vivo dali.
Fragmento de algum ponto em meio
a batalha – por Saymon Freire e Fernanda Lemos
Ao som de "A Window To The Past", John Williams.
2 pessoas se inspiraram:
Ficou absurdamente lindo. Nem sei o que dizer. Woaini.
meu Deus, magnifico!
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