Vocês permanecem mais tempo comigo do qualquer outra pessoa. As vezes eu me sinto em constante sintonia com esse mundo paralelo, isso se não passo dias a fio vendo-os me acompanhar aonde quer que eu vá. Sempre gostei de tê-los, de nutri-los e creio que essa é uma capacidade tão intrínseca em mim que já não há mais como viver sem, a cada passo, criar um de vocês para mim. Novinho em folha, mais um pra coleção.
Sabe, muitos de vocês poderiam estar incluídos na carta vinte e nove pois, às vezes, penso que o fato de contá-los deveria vir acompanhado da morte do ouvinte. Sem mentira nenhuma. E porque eu gosto tanto de tê-los? Bom, vocês são a prova de que ainda estou vivo e que sirvo pra algo. Não sou um recipiente vazio. Tudo bem, tá certo que não há coisa que nos deixe mais solitários do que nossos segredos, mas mantê-los dessa forma os torna um pouco mais reais para mim. Vocês ficam mais perto.
Todas essas cartas, esses escritos e tudo aquilo que me impulsiona a escrever só existe decorrente a minha capacidade de sonhar. E como gosto, e como me construo. Mas tenho que lembrar que viver sonhando não vale a pena. Definhar esperando que tudo saia do jeito que você sonhou é uma quimera. Experiência própria. Mas alegremo-nos, eles são os nossos esboços. Sem nossos sonhos estaríamos no 'modo automático' para sempre.
Afinal, sonhar só não dá em nada; é uma festa na prisão.
Ao som de "L'amoureuse", Carla Bruni.
Ao som de "L'amoureuse", Carla Bruni.